por Carlos Solano

Tem coisas que não existem mais nesse mundo… “Mas em Minas tem!” me garantiu dona Francisca, minha faxineira sabe-tudo. Não só em Minas, mas em Goiás, na Bahia, no Amazonas, no Rio Grande do Sul… Enfim, depois de me aventurar por terras estrangeiras em busca das artes de cuidar da casa, eu comecei a desconfiar que no nosso Brasil, bem debaixo das nossas asas, deveria existir alguma coisa nesse sentido. Dito e feito! Na pureza do interior desse país, os cuidados com a casa ganham muitos sentidos, pois existe a fartura ou a beleza da natureza para inspirar.Em Goiás, aprendi com dona Flor, benzedeira e parteira de mais de 5000 partos, que cuidar da pessoa e da casa é tudo uma coisa só. Por isso, lá no Vale do Moinho onde ela mora, faz parte do tratamento um sabonete de ervas para descarregar o corpo, uma garrafada (ou vinho de ervas) para animar a alma e três mudinhas de planta para re-ambientar a casa. Tudo preparado pelas mãos milagrosas dessa mulher guerreira que desvelou sozinha alguns bons segredos da natureza. Ela sabe que as plantas têm poder, e quando colocadas dentro de casa, no jardim ou no quintal, podem modificar todo um ambiente, repelindo o indesejável e atraindo forças benfazejas… E esta é apenas uma das idéias que regem o cuidado com a casa da roça: primeiro é preciso limpar, ou desintoxicar a morada, e, depois abençoar, ou preencher o ambiente com o bem e o positivo.
SABER CUIDAR!
“Limpar é deixar ser…” E, para isso, existem mil faxinas purificantes, os filtros feitos de ramalhetes dependurados de cabeça para baixo, os penduricalhos (móbiles feitos de ervas aromáticas), as chuvas de rosas… Mas, antes temos de saber quais os raminhos verdes mais indicados. Como escolher? É fácil. Quem diria que o poder da planta está na assinatura da cor, do feitio, do aroma e do sentido? Quem diria que as formas das plantas têm a ver com os sete arcanjos? Que uma planta é de São Miguel e outra é de São Rafael? Que as flores azuis irradiam a graça divina porque são pedaços do céu, a morada dos deuses? Que a flor de buganvília, por parecer um casulo, faz a proteção física e espiritual? É por causa dessas e outras analogias que faxinar a casa com o chá de pata de vaca (cuja folha lembra um coração) resgata o doce da vida, que banhar a morada com o pano de chão embebido em um chá de calêndula (conhecido cicatrizante) melhora as feridas da alma, que o banho de rosas brancas pacifica a casa e traz entendimento. E que a faxina com o chá de eucalipto, um bom desinfetante, abre os caminhos e ajuda a clarear as metas de vida (1 copo de álcool + o chá ou 7 gotas de essência de eucalipto. Passar o rodo com o pano de chão em forma de cruz em cada cômodo). E por aí vai… O manancial de receitas é infinito. Após a purificação, a casa fica como uma tela em branco e é preciso preencher com coisas boas. Para isso é que servem os famosos “talismãos” (objetos que guardam as bênçãos das mãos que os prepararam), as rodas indígenas de ervas e flores, ou as águas de cheiro, que são borrifadas, desde a entrada até os fundos do lugar. Você pode escolher. Infusão de Águas Calmas (ervas e flores em infusão na água de fonte com álcool de cereais, 1:1), deixada por três horas no sol e 28 dias na sombra. Ou, para os casos de maior aperto, uma Infusão de Águas Rápidas: ervas e flores em infusão por duas horas em álcool de cereais puro. Depois, deve-se diluir o elixir em água mineral para borrifar a casa limpa.A Água feita da casca de laranja ou da mexerica (frutas que se parecem com um pequeno sol) ilumina os caminhos. A Água de Rosas com Alecrim alegra o coração, a Água de Jasmim trabalha o esquecimento de si (“jaz-mim”) e abre espaço para a inspiração espiritual, a Água de Espada de São Jorge com Canela protege estimulando, a Água Revitalizante de Manjericão Roxo atua contra depressão, a Água Refrescante de Hortelã serve para ambientes pesados, pois se a hortelã é vermífugo, atua também contra os “vermes da alma”. E assim vamos tecendo benefícios para a casa e para a vida…
Tem mais
E tem muito mais nesse estudo que eu chamei de Casa Natural. Tem os cuidados caseiros com as plantas e flores: um inseticida de farinha de trigo, um fortificante com cascas de frutas, a indicação de comer inhame para afastar pernilongo… Além de outras receitas da roça, “novidades de antigamente”, que não poluem os ares da casa, nem o planeta, e custam muito menos! Olha para você ver! Limpa tudo: quatro colheres de sopa de bicarbonato de sódio, uma de vinagre branco ou de suco de limão, em um litro de água morna. Pasta de limpeza: deixar os restos de sabão de molho em um pouco de água (até formar uma pasta) e misturar uma colher de sopa de vinagre e duas de açúcar. Para desinfetar o banheiro: bicarbonato de sódio com vinagre branco em água fervente. Na hora de encerar o chão: uma parte de óleo vegetal (linhaça é bom) e outra de suco de limão ou vinagre. Fica um brinco!Tem ainda as terapias da casa: Geoterapia (sabia que pintar a casa com terra pode melhorar a qualidade ambiental? São várias as receitas de tinta), Musicoterapia, as acupunturas da casa sugeridas pelo Feng Shui, algumas máximas da Geobiologia, Oponopono, Arte persa, Arte nossa… O último assunto é a Ecologia e os cuidados com as nossas cinco casas (o corpo, o vestuário, a morada, a cidade, o planeta). Por exemplo? Antes de fazer mercado, consulte a lista de produtos com e sem transgênicos, pois até hoje não se sabe bem o efeito desse tipo de alimento sobre a saúde: www.greenpeace.org.br/consumidores
Carlos Solano é arquiteto e escritor. Autor do livro “Feng Shui – Kan Yu, arquitetura ambiental chinesa” (Editora Pensamento), co-autor do livro “Alma da Pedra – anotações sobre assentamentos humanos para o terceiro milênio” (Oficina mineira de edições) e colunista da revista Bons Fluidos, Editora Abril, onde assina a coluna Casa Natural. É idealizador e coordenador da campanha “Vamos plantar 1.000.000 de árvores para salvar o mundo”, http://www.ummilhaodearvores.org.br/